MORAES, Alexandre D. Administração Pública: Uma Jornada Através do
Tempo - Práticas do Passado e Teoria Do PRESENTE. Uberaba: Blogspot, 2024.
Introdução
Em um mundo em constante mutação, a administração
pública se reinventa para atender às demandas sociais e tecnológicas em
constante evolução. Compreender a trajetória histórica da administração pública
torna-se fundamental para navegarmos nesse cenário complexo. Este texto,
intitulado "Administração Pública: Uma Jornada Através do Tempo - Práticas
do Passado e Teoria do Presente", se propõe a desvendar essa jornada,
explorando a intrínseca relação entre as práticas e teorias do passado com a
realidade da gestão pública contemporânea.
Traçando
os Caminhos do Passado: A Evolução das Práticas Administrativas
A administração pública não surgiu do nada, mas sim
como fruto de um processo histórico contínuo, moldado por diferentes contextos
sociais, políticos e econômicos. Ao longo do tempo, as práticas administrativas
sofreram significativas transformações, refletindo as necessidades e desafios
de cada época (Giannetti, 2002).
- Da Antiguidade à Idade Média: As
primeiras formas de administração pública emergem em civilizações antigas
como Mesopotâmia, Egito e Roma, caracterizadas por um controle
centralizado e burocrático (Weber, 1947). Na Idade Média, a Igreja
Católica assume um papel preponderante na administração, enquanto o feudalismo
marca a descentralização do poder (Gilbert, 1994).
·
Idade
Moderna e Absolutismo: A
ascensão do Estado Moderno na Idade Moderna traz consigo a centralização do
poder e o fortalecimento da administração pública. O absolutismo monárquico se
caracteriza por um controle rígido e hierarquizado da administração, com ênfase
na figura do rei (Bodin, 1616).
·
Revolução
Francesa e o Surgimento do Estado Moderno: A Revolução Francesa marca um ponto de virada na
história da administração pública, com a ruptura do absolutismo e a ascensão
dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. O Estado Moderno se
consolida como um instrumento para garantir o bem-estar social e a justiça
(Rousseau, 1762).
·
Século
XIX e a Expansão da Administração Pública: O século XIX é marcado por um grande crescimento da
administração pública, impulsionado pela industrialização, urbanização e
expansão do Estado (Nisbet, 1967). A burocracia se profissionaliza e se torna
mais complexa, com a criação de novos órgãos e agências.
·
Século XX
e as Grandes Transformações: O
século XX é marcado por grandes transformações na administração pública, com o
surgimento do Estado de Bem-Estar Social, a globalização e o avanço das
tecnologias. A administração pública se torna mais complexa e desafiadora, necessitando
se adaptar às novas demandas sociais e tecnológicas (Hood, 1991).
Do Passado
ao Presente: As Teorias que Fundamentam a Administração Pública
As teorias de administração pública se desenvolveram
ao longo da história, acompanhando as transformações sociais, políticas e
econômicas. Cada teoria reflete um contexto histórico específico e oferece
diferentes perspectivas sobre como a administração pública deve funcionar
(Lima, 2007).
·
Administração
Científica (Taylorismo): No
início do século XX, Frederick Winslow Taylor propõe a Administração
Científica, com foco na racionalização do trabalho, na otimização da produção e
na maximização da eficiência (Taylor, 1911).
·
Administração
das Relações Humanas: Em reação
ao Taylorismo, a Escola das Relações Humanas surge na década de 1930,
enfatizando a importância da motivação dos trabalhadores, das relações
interpessoais e do bem-estar no trabalho (Mayo, 1933).
·
Teoria da
Burocracia: Max Weber, no início
do século XX, propõe a Teoria da Burocracia, caracterizada pela racionalidade,
impessoalidade, hierarquia e regras formais (Weber, 1947).
·
Teoria
Estruturalista: Na década de
1950, a Teoria Estruturalista surge, focando na estrutura da organização, na
divisão do trabalho e na formalização dos processos (Etzioni, 1961).
·
Teoria
Neoclássica: A Teoria
Neoclássica, na década de 1950, busca integrar as abordagens clássica e das
relações humanas, enfatizando a racionalidade, a eficiência e o bem-estar dos
trabalhadores (Drucker, 1954).
Continuando a Jornada:
Novas Abordagens e Desafios da Administração Pública
·
Abordagem
Comportamentalista: Na década de
1960, a Abordagem Comportamentalista foca no comportamento individual e grupal
dentro das organizações, utilizando conceitos da psicologia social (March &
Simon, 1958).
·
Teoria da
Administração Pública: No final
do século XX, surge a Teoria da Administração Pública, com foco nas
características específicas da administração pública, como a distinção entre
público e privado, a legalidade e a impessoalidade (Partidário, 2006).
·
Nova Gestão
Pública: Na década de 1990, a
Nova Gestão Pública (NGP) emerge como uma resposta à crise do Estado de
Bem-Estar Social, buscando maior eficiência e produtividade. A NGP se inspira
nos modelos de gestão privada e propõe a adoção de práticas como (Bresser
Pereira, 1997):
- Ênfase na eficiência e na
produtividade: Busca-se otimizar os recursos públicos e alcançar melhores
resultados com menos custos.
- Orientação
para o cliente: A administração pública passa a focar na satisfação do
cidadão, considerando-o como um cliente a ser atendido.
- Descentralização
e autonomia: Incentiva-se a descentralização da tomada de decisões e a
concessão de maior autonomia para os órgãos públicos.
- Profissionalização
do serviço público: Busca-se valorizar a qualificação e a competência dos
servidores públicos.
- Utilização de tecnologias
da informação e comunicação (TICs): A adoção de novas tecnologias permite
a modernização dos processos, a transparência e a participação social.
Apesar de seus
benefícios, a NGP também enfrenta críticas. Alguns apontam para a excessiva
privatização dos serviços públicos, a precarização do trabalho e o
distanciamento dos valores históricos da administração pública (Baretta, 2003).
Olhando
para o Futuro: Desafios e Oportunidades da Administração Pública
A administração pública contemporânea enfrenta
inúmeros desafios. A globalização, a crise econômica, as mudanças tecnológicas
e as demandas sociais por maior participação e transparência exigem uma
constante reinvenção da gestão pública (Bresser Pereira & Spink, 2010).
Alguns dos
principais desafios incluem:
- Combate à corrupção e à burocracia: É preciso
fortalecer a integridade e a eficiência da administração pública (Melo,
2017).
- Sustentabilidade ambiental: A administração pública
deve promover políticas públicas sustentáveis e ecologicamente
responsáveis (Agenda 21, 1992).
- Inclusão social e combate à desigualdade: É preciso
garantir o acesso de todos os cidadãos aos serviços públicos e promover a
igualdade social (Santos, 2000).
- Inovação e uso de tecnologias: A
administração pública deve se adaptar às novas tecnologias para melhorar a
prestação de serviços e a participação social (E-Government, 2003).
Por outro lado, a
administração pública também dispõe de diversas oportunidades para melhorar o
seu desempenho. Algumas das principais oportunidades incluem:
- Fortalecimento da governança: É preciso
promover uma gestão pública mais transparente, participativa e responsável
(PNUD, 2018).
- Desenvolvimento de competências dos servidores públicos: A
qualificação e a capacitação contínua dos servidores são fundamentais para
a eficiência da administração pública (Lei n° 8.112/1990).
- Cooperação intergovernamental: A
colaboração entre diferentes níveis de governo (federal, estadual e
municipal) é essencial para o enfrentamento de problemas complexos
(Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, 1943).
- Participação social: A administração pública deve
buscar a participação ativa dos cidadãos na tomada de decisões e na
formulação de políticas públicas (Lei da Transparência Pública - Lei n°
12.527/2011).
Conclusão:
Aprendendo com o Passado, Construindo o Futuro
A administração pública é uma jornada contínua,
marcada pela constante evolução das práticas e teorias ao longo do tempo.
Compreender a história da administração pública é fundamental para entender a
sua forma atual e para projetar um futuro mais eficiente, eficaz e democrático
(Diniz, 2017).
Ao aprender com as lições do passado e ao incorporar
as novas tendências e tecnologias, a administração pública poderá enfrentar os
desafios da atualidade e construir um futuro mais justo e sustentável para
todos.
Referências
- Agenda 21 (1992). Programa 21:
Agenda para o Século XXI. Confer
- Baretta,
R. (2003). A Nova Gestão Pública e seus Impasses: Uma Crítica. Revista do
Serviço Público, 54(1), 7-42.
- Bodin, J. (1616). Os Seis Livros da
República. [tradução de Maria Lúcia Amaral] São Paulo: Atlas, 1995.
- Bresser Pereira, L. C. (1997). A
reforma do Estado para a estabilidade: a reforma gerencial. Lua Nova,
(40), 5-28.
- Bresser Pereira, L. C., &
Spink, P. M. (2010). Reforma do Estado e Administração Pública no Brasil.
FGV Editora.
- Consolidação das Leis do Trabalho -
CLT (1943). Brasília, DF: Presidência da República.
- Diniz, M. H. (2017). Estado e
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- Etzioni, A. (1961). A Comparative Analysis of Complex Organizations.
The
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- E-Government (2003). A égide da
Rede: para uma nova administração pública e um novo serviço público.
Relatório apresentado ao Primeiro-Ministro Jean-Pierre Raffarin. Paris: La
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- Gilbert, F. (1994). Pioneers of Modern Social Thought. Oxford
University Press.
- Giannetti, C. M. (2002). O valor da
administração pública. Revista do Serviço Público, 53(2), 7-29.
- Hood, C. (1991). A New Public Management for America? Public
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- Lei n° 8.112,
de 11 de dezembro de 1990. Regime jurídico dos servidores públicos civis
da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Brasília, DF: Presidência da República.
- Lei da Transparência Pública - Lei
n° 12.527, de 18 de novembro de 2011. Acesso à Informação. Brasília, DF:
Presidência da República.
- Lima, V. P. (2007). Teoria da
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- March, J. G., & Simon, H. A. (1958). Organizations.
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- Mayo, E. (1933). The human problems of an industrial civilization. Harvard
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- Melo, M. C. B. de. (2017).
Corrupção e burocracia no Brasil: uma análise a partir da teoria da
escolha pública. Revista de Direito da Cidade, 9(2), 337-362.
- Nisbet, R. A. (1967). The Sociological Tradition. Basic
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- PNUD (Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento). (2018). Relatório mundial sobre desenvolvimento
humano 2018. A natureza em mudança: como lidar com seus desafios e
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- Rousseau, J.-J. (1762). O Contrato
Social. [tradução de Paulo Rangel]. São Paulo: Martin Fontes, 2009.
- Santos, M. (2000). A urbanização
brasileira. Edusp.
- Taylor, F. W. (1911). The Principles of Scientific Management. Harper
& Brothers.
- Weber, M. (1947). A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. [tradução de Luiz Eduardo Marques]. São Paulo: Pioneira, 1967.

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